segunda-feira, 10 de março de 2014

Vacina contra o HPV agora pelo SUS

A partir de hoje, 10 de março, meninas de 11 a 13 anos poderão receber a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), gratuitamente, nas escolas públicas e privadas e nos postos de saúde. O HPV é responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero.
A imunização é feita em três doses. Na clínica privada, a menina fica protegida em seis meses. No SUS, em cinco anos, o acesso às doses será diferente do esquema convencional que é comprovadamente eficaz e disponível apenas nas clínicas particulares em que a menina recebe a primeira dose e, dois meses depois, a segunda. A terceira dose é aplicada seis meses depois da primeira. Em apenas um semestre, a garota está protegida.
Segundo os estudos, as três doses ministradas em seis meses oferecem proteção duradoura, possivelmente por toda a vida.
O esquema de vacinação oferecido pelo SUS é outro. As meninas tomam a primeira dose e a segunda dose será oferecida seis meses depois. A terceira, só daqui a cinco anos. A justificativa pela escolha do governo federal em optar por duas doses, neste momento, em vez de três, é que poderá imunizar mais meninas. Não só por que o custo por pessoa cai, mas por que é mais fácil garantir a adesão das garotas à vacinação se elas tiverem que receber apenas duas injeções.
Mas e depois? O governo vai conseguir achar as meninas vacinadas e convocá-las a tomar a terceira dose? Com 17 ou 18 anos, elas atenderão a essa convocação?
Claro que o ideal seria oferecer as três doses em seis meses. Se o SUS está longe do ideal, não há dúvida de que o esquema proposto (duas doses) é melhor do que nada.
O papanicolau, que detecta lesões pré-cancerosas causadas por outros tipos do HPV, continua sendo fundamental.
E os meninos?
Nas clínicas privadas, também é possível vacinar os meninos, público não atingido pela campanha oficial.
Mesmo que os rapazes não sofram problemas decorrentes do HPV, a vacinação deles interromperia a cadeia de transmissão do vírus. Dessa forma, homens e mulheres sairiam ganhando.
Espero que em breve o Ministério da Saúde comece a ser pressionado pelas empresas e pela própria sociedade para oferecer a vacina aos meninos no SUS.
Vacinar ou não vacinar os filhos é uma decisão de cada família. Não há razão para criar pânico em torno do HPV, como a estratégia de marketing agressiva da indústria farmacêutica sugere. Da mesma forma, não há razão para disseminar o pânico contra a vacinação.
Pesquisei e como farmacêutica montei um questionário de perguntas e respostas para que todos possam entender melhor.

O que é HPV?
HPV ou Papilomavírus humano (Human papillomavirus) é um vírus de transmissão preferencialmente sexual, considerado como a DST (doença sexualmente transmissível) mais freqüente no mundo.
São  vírus da família Papilomaviridae, capazes de induzir lesões de pele ou mucosa, as quais mostram um crescimento limitado e habitualmente regridem espontaneamente por ação do sistema imunológico. Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV, dos quais cerca  de 45 infectam a área ano-genital masculina e feminina.

É importante tomar esta vacina do HPV?
Sim. A descoberta de que o vírus pode causar câncer de colo do útero rendeu um prêmio Nobel de medicina. O impacto social da vacina pode ser enorme. Nas áreas pobres, onde as mulheres não têm acesso a exames papanicolau e os homens nunca viram um urologista, a vacina pode reduzir drasticamente os casos de câncer de colo do útero, ânus, pênis e orofaringe.

Quem pega o HPV nunca mais se livra dele?
Não é verdade. Com tratamento adequado, a pessoa que não eliminou o vírus naturalmente pode se curar e deixar de transmiti-lo.

Quando a pessoa pega o HPV e fica naturalmente imune ao vírus, a proteção dura para sempre?
Nem sempre. É possível que um indivíduo que tenha adquirido o vírus em algum momento da vida e ficado naturalmente imune por muito tempo volte a adquirir o mesmo HPV se for exposto a ele novamente

Se tomar a vacina, a pessoa fica livre de todos os tipos de HPV?
Não. Existem cerca de 200 tipos de HPV. As vacinas existente são quadrivalente, que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 (responsáveis por 70% dos tumores do colo do útero e por 90% das verrugas genitais) e a bivalente que protege contra os tipos 16 e 18.

Quem toma a vacina pode adoecer por causa de outros tipos de HPV?
Sim. As vacinas não protegem contra todos os tipos causadores de lesões genitais e câncer. É possível que no futuro surjam uma segunda geração de vacinas, capazes de oferecer proteção contra um número maior de subtipos do vírus

O HPV sempre provoca doença?
Não. A cada 100 indivíduos sexualmente ativos, 75 adquirem o HPV ao longo da vida. Desses, 60 eliminam o vírus naturalmente. Isso mesmo: naturalmente. Sem fazer nada contra ele, sem sequer perceber que foi infectado. Dos outros 15 indivíduos que permanecem infectados, 10 terão o vírus latente, sem qualquer lesão visível. Quatro terão lesões detectadas por exames, como o papanicolau. Se não tratadas, podem virar câncer. Apenas um terá verrugas genitais. Elas são benignas, mas incomodam.

Quem tem infecção latente (sem lesões visíveis) transmite o vírus?
Não se sabe com certeza. Se houver poucas cópias virais do HPV no organismo, ele não é transmitido.

Quem tomou a vacina pode contrair a doença?
Pode. As vacinas protegem contra alguns tipos virais (e não todos) e sua eficácia não é total – gira em torno de 80%. A possibilidade de infecção existe, mas o risco de desenvolver a doença é baixo. É possível que o corpo se livre do vírus sem manifestar nenhum sintoma ou reação.

Quanto tempo dura a imunidade conferida pela vacina?
O tempo de proteção ainda não foi estabelecido. Daí a importância de seguir as pessoas vacinadas, o que está ocorrendo em diversos países, sob os olhares atentos da Organização Mundial da Saúde. Até agora, passados cerca de dez anos de seguimento de jovens vacinadas durante os ensaios clínicos, as duas vacinas registram o mesmo tempo de proteção. Espera-se que o mesmo ocorra em relação aos meninos e rapazes que estão sendo acompanhados há menos tempo.

Depois de cinco anos, é preciso tomar a vacina outra vez?
Até o momento, não há nenhuma indicação de necessidade de reforço.

É possível fazer um teste para saber se a pessoa já teve contato com o vírus e, dessa forma, evitar gastos desnecessários com a vacina?
É possível, mas não serve para muita coisa. O teste é capaz de indicar que a pessoa teve contato com o HPV, mas não revela qual foi o subtipo. Mesmo que a pessoa soubesse qual foi o subtipo que causou a infecção, a vacina pode protegê-las contra os outros subtipos.

Qual é o melhor momento para tomar a vacina?
O ideal é recebê-la antes do início da vida sexual. Quem não é mais virgem também pode ter benefícios. Mesmo que a pessoa tenha sido infectada por um dos tipos de HPV, a vacina quadrivalente pode protegê-la de outros três tipos. Ainda que o câncer de pênis seja raro, os rapazes também podem ser vacinados. Isso ajuda a quebrar a cadeia de transmissão. Com mais rapazes vacinados, a chance de transmissão do vírus para as moças cai bastante. No caso dos homossexuais, o risco de câncer anal também diminui.

A mulher vacinada pode deixar de fazer o exame papanicolau?
Não. A vacina não protege contra todas as causas de câncer do colo do útero. O exame que detecta lesões pré-cancerosas causadas por outros tipos do HPV continua sendo fundamental. Se descobertas precocemente pelo exame, elas lesões podem ser tratadas e nunca virar um câncer.

A vacina é segura?
Os estudos sugerem que sim. Ela não é feita com o próprio vírus, e sim com partículas virais criadas em laboratório. Elas não contêm o DNA do vírus. Cerca de 85% das voluntárias relataram efeitos colaterais leves. Dor de cabeça, febre branda, pequeno inchaço no braço. Os sintomas desaparecem no dia seguinte. Nos estudos internacionais, houve casos de morte súbita. Nenhuma das mortes, porém, pôde ser relacionado ao uso da vacina.

Quem toma a vacina pode dispensar a camisinha?
Não. A camisinha é fundamental para evitar o risco de contrair outros tipos de HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis, como a aids.

A camisinha é suficiente para proteger contra o HPV?
Nem sempre. O HPV pode estar no escroto ou no ânus, regiões em que a camisinha não chega, e ser transmitido durante a relação em qualquer tipo de prática (vaginal, anal e oral).

Vale a pena comprar a vacina?
Depende da situação econômica de cada um. Se para pagar as doses, a família precisar economizar em educação e em alimentação, esqueça a vacina. Se você gasta esse valor em roupas, aparelhos eletrônicos ou qualquer outro supérfluo, talvez seja mais vantajoso investir em saúde. Se o SUS oferece esse benefício, a decisão fica ainda mais fácil.